segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A SEMANA PASSADA FOI ESTRANHA

1. Vi um cara imitando o Chaves saindo do barril na esquina da Av. 9 de Julho com a Rua Lorena em plena terça de manhã;
2. Fui impedida de sair da minha garagem por um Corsa todo rosa escrito Mensagens de Amor estacionado bem em frente, com um motorista maluco, pronto para começar a berrar uma cafonice qualquer aos sons de Victor e Leo para uma coitada do meu prédio (que, ainda bem, não era eu!);
3. Sofri o segundo ataque (sério!) do mesmo vira-lata que me odeia e acha que é o dono da rua onde fica o consultório do meu dentista;
4. Ouvi o dentista dizer que a "oclusão da minha arcada dentária é invejável" e pensei que normal é invejar a conta bancária, o corpo, os olhos, o cabelo de alguém e que é meio deprimente ter a oclusão da arcada dentária para ser invejada;
5. Vi (ninguém me contou!) o nosso Excelentíssimo Presidente da República dizer no Jornal Nacional: - "pruque os ôme tão ficano nervoooso"...
6. Fui ao mercado comprar sabão em pó e descobri, só quando cheguei ao caixa (claro!), que o saco de 3Kg (o maior que existe nesse mundo de sabão) estava quase vazio e que eu tinha deixado um rastro azul perfumado pelo mercado inteiro por causa de um furo maldito!
Ainda bem que acabou e que hoje é segunda-feira. Iiii... pronto! Tá vendo? Esta semana também promete. Afinal, dizer "ainda bem que é segunda-feira" é ou não é algo bem estranho?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

UM DOS PORQUÊS DE AMARAMARAMAREAMAR DRUMMOND

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

VÍCIO TELEVISIVO

“A televisão me deixou burro, muito burro demais...ô, ô, ô” já diziam os Titãs. Mas não, a TV não me deixou burra não, me deixou foi de saco cheio mesmo. Domingo à noite dei o maior piti (coisa que não faz mais meu estilo há algum tempo), porque eram 2h da manhã e na televisão nova do quarto (que eu já odeio) estava rolando o insuportável futebol americano narrado pelo ainda mais insuportável Paulo Antunes (pessoa que ocupa a posição nº 2 na minha lista do ódio, logo abaixo de coco ralado e antes da televisão nova do quarto). Depois disso, andei pensando (e discutindo sobremaneira aqui em casa – adoro usar “sobremaneira”) a respeito da quantidade de coisas que deixamos de fazer criando raízes da bunda pro sofá diante da televisão. Não se “janta” mais a mesa; não se aproveita a varanda com uma boa conversa regada a uma taça de vinho; o aparelho de som não é usado mais há sabe-se lá quanto tempo (não sei nem se ele ainda liga); não se lê mais livros na mesma velocidade nem na mesma quantidade... Enfim. Não que eu ache que o padreco do casamento que fomos em Itapetininga tinha razão. Não acho que a televisão seja a “porta do inferno”, nem o “começo do fim da Família” (assim maiúsculo mesmo ele falou), não chego a tanto. Eu gosto de uma televisão, até pra me fazer companhia, ouvir uma voz humana quando eu estou sozinha, ver notícias, programinhas no melhor estilo nãoqueropensaremnadaagora, enlatados americanos para chorar desesperadamente pela mocinha. Eu curto. Mas tudo o que é demais estraga. E me enjoa também. Decidimos começar um exercício aqui, claro, sem neuroses, mas vamos tentar diminuir um pouco esse vício de todo dia nos aboletarmos no sofá e deixarmos sempre para amanhã, depois de amanhã, um dia desses, nunca talvez, aquele monte de coisas que poderiam (e até deveriam) ser feitas agora: ouvir música no escuro, arquivar todas as contas pagas dos últimos 2 anos, tomar um banho demorado à luz de velas, fazer um curso sobre algum assunto interessante (profissional ou não), alimentar um blog, separar para doação as roupas que não usamos mais, ler poesia, escrever um haicai idiota mas que você achou lindo, bater um papo, namorar mais vezes na semana, ligar pra sua mãe ou para aquela tia que mora lá no interior do Rio Grande do Sul, conversar com seu amigo solteiro pelo MSN sobre a Ana, a Rebeca, a Raquel, a Juliana e o estilo chiclete dele que as fez sumir em dois dias de namoro, qualquer coisa que te traga um prazer mais real e te mostre que a vida é o que acontece fora do que captam as antenas e cabos da TV, e é ótima!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA

Fiz 30 anos em junho passado. Curti muito fazer 30 anos. Não por conta desse papinho furado de que a mulher está mais segura e se sentindo melhor consigo mesma. Eu sigo não me sentindo bem comigo mesma e bastante insegura. Mas fazer 30 anos é mesmo um marco na vida e, refletindo muito, concluí que eu sou uma pessoa sortuda porque há muito mais coisas boas do que ruins acontecendo pra mim sempre. Logo, comemorei o saldo positivo. Mas, como alegria é um troço que, em geral, dura pouco, outro dia recebi uma carta do plano de saúde avisando que, a partir do ano que vem, eu seria automaticamente mudada de faixa etária com o respectivo e proporcional aumento da minha participação ($) nas parcelas mensais. Eu, que trabalhei com seguro a minha vida toda, fiquei ali passada, me perguntando quem teria sido o imbecil cretino que criou aquela tabela idiota segundo a qual, a partir das 0 horas do dia do meu aniversário, eu passei a ser uma velha caquética maníaca por frequentar consultórios médicos. O negócio é que esse comunicado abriu meus olhos para uma outra mudança de faixa etária. A mudança natural, mas não menos traumática, que a vida se encarrega de ir promovendo. A coisa acontece bem lentamente, na surdina, quase sem você perceber, e começa assim: um dia você faz um corte de cabelo novo com luzes de dois tons e fica linda. O que você ouve? Antes dos 30: Nossa, como você está gata! Depois dos 30: Esse corte de cabelo afinou o seu rosto, né? Pô... Mas, tudo bem, tudo bem, respira. A questão e que daí em diante é só ladeira abaixo. Brincar de luta com os sobrinhos? Antes dos 30: diversão. Depois dos 30: distensão. Usar blusa decotada? Antes dos 30: sexy. Depois dos 30: vulgar. Casar? Antes dos 30: sorte. Depois dos trinta: milagre. Ter filhos? Antes dos 30: meio cedo. Depois dos trinta: meio tarde. Usar saias curtas? Antes dos 30: Que coxa! Depois dos 30: Que trouxa! Precisando perder uns quilinhos? Antes dos 30: pegar leve nos doces. Depois dos 30: pegar só alface mesmo. Produto que o vendedor do semáforo te oferece para comprar no trânsito? Antes dos 30: pêssegos e mentos ice. Depois dos 30: panos de prato bordados a 3 por R$5 (e, pior, você compra!). Creme para o corpo? Antes dos 30: hidratante. Depois dos 30: esfoliante para os pés de geléia de figo, gel azul fedido anticelulite para a bunda, pasta de uréia antiestrias para culote e barriga, loção firmadora de amêndoas para busto e braços e creme de extrato de guaraná para as mãos!!! No final acabo achando que a vida consegue ser mais sacana que o pessoal do plano de saúde. Pelo menos eles mandaram uma “cartinha” com uma certa antecedência...

domingo, 11 de outubro de 2009

MALUQUICE MINHA DE CADA DIA

Eu acho que todas as pessoas deste mundo tem algum problema psicológico. Mesmo que seja leve. O meu não, o meu é grave. Eu fico pensando se isso acontece com os outros ou se é só comigo mesmo ter essa mania de ficar prestando atenção a tudo o que acontece a minha volta. É como ter um sistema de comunicação super potente e ficar captando radio pirata o tempo todo! Eu tenho um radar da NASA dentro do meu cérebro! É uma coisa de gente completamente maluca, daquela que precisa mesmo ir pro Pinel. Quando eu estou andando no shopping com o marido sou capaz de prestar atenção na explicação absurda dele sobre as regras do futebol americano (alguém sabe quanto é uma jarda? Não? Nem eu), lembrar a hora certinha do jogo do Grêmio, reparar que lá na prateleira do fundo da Arezzo tem uma bolsa vermelha maravilhosa, ouvir o comentário de duas senhoras sobre a peça de teatro nova que estreou na sexta passada, reparar que uma menina de 12 anos está falando sozinha na livraria e se perguntando por que ali não tinha “nenhuuuum espelho”, ouvir a conversa pelo celular de uma moça com o Henrique e descobrir que o Henrique é o namorado dela que estava atrasado porque o jogo do Corinthians tinha acabado de acabar. E tudo ao mesmo tempo! Mas fica pior. Às vezes eu vejo cenas banais do dia-a-dia envolvendo as outras pessoas e crio umas histórias doidas. Isso talvez seja o meu sintoma mais sério de maluquice nível extratosférico. Imagina. Vejo uma senhora de uns 50 anos sentada no restaurante sozinha e fico pensando que ela acabou de se divorciar, que está esperando uma amiga que vai lhe apresentar pra um outro amigo que ainda está solteiro com mais de 50 anos porque é um chato de galochas que só toma suco de tomate, come pistaches importados e tem uma pança monstro. Eu dou risada sozinha da desgraça alheia, mas, claro, não é nada disso. Na verdade o marido da mulher é um cara dez anos mais novo que ela que chega do banheiro dois minutos depois de eu inventar aquela história idiota na minha cabeça! Depois vejo um casal conversando baixinho e ela faz uma cara triste (ou eu achei que a cara era triste) e eu fico imaginando que ele está terminando tudo porque ela usou as palavras “casamento” e “bebê” numa única frase e depois de três semanas de namoro. É claro que, de novo, não deve ser nada disso: o cachorro dela pode ter morrido, ela pode estar com enxaqueca ou com a unha do dedão inflamada latejando, qualquer coisa nessa vida, mas até aí eu já criei uma novela na minha cabeça. Mas pior mesmo é contaminar os outros com essa maluquice e começar a dividir com o meu marido a história que eu inventei sobre aquelas pessoas. Surge, então, do nada, uma discussão ridícula:
Eu: - Olha ali. Tá vendo aquele menino jantando com a mãe? Tá vendo?
Ele: - Onde? Ali?
Eu: - Não olha!
Ele: - Mas se eu não olhar eu não vejo.
Eu: - Ali atrás, mas olha disfarçando.
Ele: - Tá, tô vendo. Mas o que é que tem?
Eu: - Aposto um sorvete Mega de doce de leite que ele engravidou a namorada de 16 anos e escolheu um restaurante para contar pra mãe só pra ela não ter coragem de matá-lo em público. Olha a cara péssima dela!
Ele: - Que nada, ele só tá levando um xingo porque tirou nota baixa em química orgânica. Molecão. O que você vai beber? H2Oh com gelo e limão?
Eu: – Tem isso de química orgânica e inorgânica ainda? Ai, deixa pra lá. Hoje eu quero suco de melancia com gelo num copo a parte. Mas claro que não pode ser só isso. Repara. A coisa é mais séria, um climão...
Ele: - A gente vai de buffet ou de pizza?
Eu: - De buffet, óbvio! Eu quero passar lá perto pra ouvir o que ela está achando de ser vovó.
Ele: - Prefiro Mega de amêndoas!
Eu: - Já volto com informações!
Pelo amor de Deus, tem coisa minha que nem eu aguento...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

BE YOURSELF!

E daí tomar Activia de aveia todo dia no mesmo horário? E daí verificar se fechou a porta três vezes antes de entrar no elevador? E daí espirrar pela boca e arrotar pelo nariz? E daí odiar coco ralado mais do que tudo nessa vida? E daí comprar uma bolsa vermelha que você não precisa, mas que você amou? E daí ver um vestido e falar que é liiiin-dooooo? E daí assistir Darty Dancing pela 44ª vez e adorar? E daí andar pela sala a noite inteira quando tem uma preocupação? E daí decorar as musiquinhas dos comerciais? E daí ter uma vontade incontrolável de abraçar quem você ama no meio da rua? E daí ter jeans e blusas pretas de decote em "V" enchendo o armário? E daí mudar cinco vezes de ideia sobre a mesma coisa num período de vinte minutos depois de jurar que tem certeza absoluta que era aquilo que ia fazer? E daí ler um livro e chorar loucamente? E daí esquecer completamente uma coisa ruim que fizeram com você? E daí usar muito advérbio de intensidade? E daí amar fazer aniversário e querer que todo mundo te ligue nesse dia? E daí esquecer o nome das pessoas que acabou de conhecer? E daí continuar esquecendo sempre alguma coisa em casa e só lembrar quando vira a esquina? E daí fazer tudo pelos seus amigos? E daí ter pavor de palhaço? E daí nem sempre conseguir perdoar? E daí brincar de guerra de tinta com os sobrinhos? E daí adorar loja de brinquedos? E daí ficar horas numa livraria? E daí gostar de fazer bomba na piscina mas ter vergonha? E daí mandar a faxineira lavar o banheiro todos os dias? E daí ter fixação por lençois e toalha brancas? E daí cantar a música nova da Pink aos berros dentro do carro com as janelas fechadas enquanto espera no trânsito? E daí gostar de ouvir música italiana das antigas quando está deprimida? E daí dançar sozinha na sala girando a cabeça feito louca até cair tonta no sofá morrendo de rir de si mesma? E daí ainda fazer isso aos 30 anos? E daí odiar insetos pestilentos que fazem berebas na pele da gente? E daí tentar pintar a porta nova do banheiro e cagar tudo? E daí ser você mesma nessa vida? Daí que é bom!

HOJE ACORDEI MEIO CLARICE

"Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração! Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente! Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre! Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes. Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? Eu adoro voar!" Clarice Lispector

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

AOS MEUS AMIGOS SEMPRE...

...sopa quente, mudança de planos, ombro, choro, risos, senha para o roteiro da minha vida, ler em voz alta, pão-de-ló e água carregada na peneira!

SOLTA AÍ: UMA PORÇÃO CAPRICHADA DE AUTOCONFIANÇA

Oh, um tiquinho de leviandade no sangue me faria o mais feliz dos mortais. O quê! Ali onde outros, apresentando pouca força e talento, pavoneiam-se diante de mim, cheios de uma doce complacência para consigo mesmos, duvido eu mesmo de minhas forças e aptidões? Bom Deus que me concedeste todos esses dons, por que não ficaste com a metade deles para me dares em seu lugar a confiança própria e a auto-satisfação?”. (Trecho de “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

CHAMA O SÍNDICO

É impressionante (e saudável) como eu sou a pessoa que menos sabe de tudo o que acontece no meu prédio. E eu sou feliz assim, achando que não acontece nada fora do normal por aqui. Eu curto ser “condominialmente” alienada! Olhando de fora, parece um prédio normal, de gente normal, de classe normal, num bairro normal, com apartamentos de tamanho normal (leia-se: onde você consiga entrar no banheiro sem ter que virar de ladinho pra se limpar). Está até valorizando normal, enfim... Eu faço questão de nunca saber de absolutamente nada da vida das pessoas ao meu redor de modo a preservar esse meu tão querido conceito de normalidade. Até porque vizinho bom, pra mim, ou está de mudança ou é aquele que dá tchau lá da porta dele, já fechando, sumiiiindo... Não. Eu nunca frequento reuniões de condomínio nem assembléias nem nada, nem que o mundo (no caso, o nosso mundo se resume ao chão da piscina infiltrando em cima do teto da garagem) estiver desabando eu vou a um evento desses. O que decidirem está de bom tamanho, eu como pão com banana pra pagar o condomínio, mas durmo em paz. Imagine, na última ata que eu me dignei a ler dizia que os pais de um menino de um apartamento seriam punidos porque o moleque tinha praticado “atos nefastos”. Pelo amor de Deus? O que ele fez? Cozinhou o gato da síndica no microondas até o bichano explodir em mil pedaços? Ah, não dá pra mim. Eu sou muito esquentada pra participar dessas coisas. Na primeira besteira que o inadimplente do apartamento X falasse, eu ia jogar a mesa do salão de festas na cabeça dele, ia dar a maior confusão, sangue, polícia, então melhor não. Bom, o fato é que, mesmo fugindo de maneira muitas vezes ridícula, olhando no olho mágico antes de abrir a porta de casa, fechando com força a porta do elevador e fingindo que eu não vi a vizinha-mala-mãe-da-gordinha-malcriada vindo correndo (tudo pra não subir com aquele papo brabo de calor, frio, faxineira boa e fralda noturna mais flexível para bebês), tem dia que não dá pra escapar. Eu e o marido estávamos subindo no elevador, cheios de compras nas mãos e, advinha, encontramos com os meus vizinhos de parede. Eles fazem aquele tipo “participativo-controlador-compulsivo” e, mesmo sem perguntar, acabamos sabendo de coisas cabeludíssimas que rolam por aqui. “Você soube da última?”. Vontade de dizer: meu filho, eu não soube nem da primeira, que dirá da última. Não sei nem quero saber! Mas não digo, não escapo e começa: “O cara do apartamento tal aproveitou que a mulher viajou, chamou duas mulheres ‘estranhas’ e foi visto pelo pessoal do prédio vizinho dançando pelado na varanda, baixou polícia e tudo”. Nossa, que coisa. “Ah, e o cara do tal andar que pendurou a mulher pelos pés pra fora da janela, bate nela direto e ela gosta tanto que não quer que ninguém chame a polícia se acontecer de novo. Tá sabendo?” Não, não estAVA sabendo. E me dá uma vontade louca de dizer: e nem queria saber e tchau porque o dedo do meu marido está quase gangrenando enrolado na sacola plástica do mercado. Mas não digo, apesar de ser verdade, e a coisa continua: “Olha, ainda bem que nós nos livramos do vizinho aqui debaixo. Finalmente se mudou. Também, depois que ele deu um tiro pro alto bem na hora que meu filho estava na janela, e foi todo mundo pra delega, tinha mais é que ir embora rapidinho”. Jesus Cristo, tiro, delega? Que lugar é esse? Que horas acontece essas coisas que eu não vejo nem ouço nada? Eu estou morando onde? Custa os olhos das nossas caras e um pouquinho das nossas orelhas isso aqui! Enquanto ele falava, meu conceito sobre a tal normalidade ia ficando completamente abalado, assim como a minha fé no ser humano em geral. E como se não bastasse me deixar apavorada com essas informações sobre os nossos companheiros psicóticos de plantão, deixar o dedo do meu marido quase pra cair, o cara ainda começa a falar do que acontece nos prédios vizinhos: “Sabe o prédio chique aqui na rua tal? Então, minha amiga mora lá e outro dia ela desceu com um cara pelado no elevador! Ela chamou o marido pelo interfone e ele disse: - Deixa o cara ser feliz!”. Ok, é engraçado pra caramba pensar nisso, mas eu tinha que fazer cara de indignada ali na hora. Claro, como tudo sempre pode piorar, começou a me dar uma vontade incontrolável de fazer xixi, e eu pensava no dedo do marido ficando cada vez mais roxo. Ai que nervoso. Devia ter previsão de multa pra quem perturbasse a estabilidade emocional dos demais condôminos desse jeito. Finalmente conseguimos nos livrar, tchau, tchau, adeus pra nunca mais, se Deus nos ajudar só te encontro na próxima vida, bam, porta fechada. Senti um alívio tão grande que ali sentada na privada, tive um ataque de riso e comecei a chorar. Porque, falando sério, a vida dos outros é ou não é coisa de chorar de rir?

TUDO O QUE EU QUERO

Quero ser um ser humano melhor, quero pensar mais positivamente, quero reciclar mais meu lixo, quero mais conhecimento, quero mais livros lidos, quero decorar mais músicas, quero mais viajar e viajar, quero falar mais com os meus amigos, quero mais mundos dentro de mim, quero mais imagens, quero estar mais com os meus pais, quero ter mais fotos e histórias para contar, quero outras culturas, quero um filho do marido que eu amo, quero ser uma boa mãe e esposa, quero ser magra uma vez na vida, quero mais museus vistos, quero um único creme que sirva para tudo e evite qualquer tipo de ruga, quero ser mais calma, quero usar minha profissão para fazer justiça, quero ganhar mais dinheiro, quero ser realizada profissionalmente, quero ajudar mais ao próximo, quero dizer mais eu te amo, quero saber perdoar mais, quero me perdoar mais, quero não ter medo de fracassar, quero me amar mais, quero mais coragem, quero mais autoconfiança, quero aprender definitivamente se autoconfiança agora é junto ou separado e quero, principalmente, não querer tantas coisas ao mesmo tempo.

ALEGRIA DE PAI

Faz tempo isso. Estávamos caminhando no Parque do Ibirapuera quando uma menininha, andando de bicicleta, passou à frente de seu pai e de sua mãe bem ao nosso lado. Reparei bem nela porque seus cachinhos balançavam muito com os solavancos da bicicleta. De repente, ela virou para trás e disse toda alegre: “Nossa, mamãe, como o papai está feliz hoje, né?!”. Fiquei triste. Deve ser raro ela vê-lo assim.

PICOLÉ DE LIMÃO

Outro dia o meu sobrinho e afilhado, o Dedé, ganhou um brinquedo que era um gênio da lâmpada de plástico. Ele foi logo me perguntando se aquilo era um palhaço. Afe, eu, que tenho pavor de palhaços (que me perdoem os palhaços bonzinhos e legais, mas eu odeio até vocês), fui logo explicando a lenda do tal gênio da lâmpada do Aladdin.

No final da história, eu falei:
- Já que você encontrou o gênio, pode fazer três pedidos, pedir três coisas que queira muito.
Aquele gurizinho esperto e comilão retrucou:
- Tia, eu quero um picolé. Um picolé de limão!
Ele pensou mais um pouco, porque deve ter se lembrado que tinha três pedidos, e completou:
- Um não, quero dois, dois picolés de limão (ele usa o plural corretamente aos 3 anos e eu acho lindo). Ah, e dá pra pedir um carrinho amarelo também? Mas pode ser um bem pequeno.

Ai que delícia ser criança e querer mais que tudo nessa vida dois picolés de limão e um pequeno carrinho amarelo!

HORÓSCOPO DE ARAQUE

Meu horóscopo de hoje disse que o dia é “propício” (propício é uma palavra que me irrita porque não quer dizer que vai acontecer nem que não vai acontecer necessariamente), mas, enfim, o dia é “propício” para a purificação da alma e para enxergar as coisas que me acontecem de um ponto de vista mais “amplo e espiritual”. Mas só me explica uma coisinha, por favor. Como é que discutir com a faxineira sobre como se usa o trocinho de plástico pra lavar sutiã e somar 2 meses tentando achar um carpinteiro pra trocar a bendita porta do banheiro que só fecha na porrada pelos mesmos 2 meses pode ter alguma conotação espiritual? Só se for algum espírito de porco tirando com a minha cara! A vida é engraçada.

UM DOS PORQUÊS DE AMAR CLARICE LISPECTOR

“Nessa mesma noite gaguejara uma prece para o Deus e para si mesma: alivia minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos somos incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade e paciência comigo mesma, amém.” (Trecho de "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres" grifado por mim descaradamente).

UM BLOG PRA CHAMAR DE MEU

Eu já tenho outro blog que escrevo com uma amiga sobre as coisas legais que vamos encontrando nas andanças em São Paulo (http://www.descobrindoacidade.blogspot.com/). Mas esse aqui vai ser só meu, só para as coisas que eu acho que valem a pena serem contadas e para as que nem acho tanto que mereçam mas que vou contar assim mesmo. Afinal, de que adianta eu passar por essa vida e não deixar nenhuma história contada?